quinta-feira, 7 de março de 2013




Flores sem perfume e manchadas de sangue.


Então, mais uma vez chegou o dia 08 de março, o dia internacional da mulher. Todo mundo comemora essa dia com festas, presentes, flores, abraços, homenagens, promoções em lojas e muitas outras atitudes hipócritas, digo hipócritas por que, salvo rara exceção, nenhuma delas realmente valoriza a mulher naquilo que ela de fato precisa. São comemorações até justificáveis, afinal há muito que se comemorar. As mulheres já podem votar, conquistaram um vasto espaço no mercado de trabalho, inclusive em áreas antes estritamente dominadas pelos homens, até temos uma mulher na presidência da república do nosso país. As mulheres já podem decidir por ter filhos ou não ter, já existem políticas públicas voltadas para a promoção e defesa dos direitos da mulher e a lei nº 11.340, famosa lei Maria da Penha, mas como diz o poeta “... as leis não bastam os lírios não nascem das leis...” (1). Realmente, o momento atual comparado ao século passado, por exemplo, revela que as mulheres obtiveram inúmeras e grandiosas conquistas. Mas será que devemos apenas comemorar?
Muito se fala sobre este dia, mas a maioria nem lembra o motivo, qual a origem dessa data. A ideia da existência de um dia internacional da mulher surge na virada do século XX, no contexto da Segunda Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial, quando ocorre a incorporação da mão-de-obra feminina, em massa, na indústria. As condições de trabalho, frequentemente insalubres e perigosas, eram motivo de frequentes protestos por parte dos trabalhadores (2). Esse dia representa a memória das lutas de mulheres do passado que enfrentaram a sociedade do seu tempo para mostrar que mulher também é gente, representa as lutas travadas para que as mulheres de hoje pudessem usufruir de tantas conquistas. Entre outras coisas, mas não o único motivo, o dia 08 de março foi criado para lembrar um grupo de 146 trabalhadoras que morreram no incêndio da fábrica onde trabalhavam, no dia 25 de março de 1911, na cidade de Nova Iorque. A versão oficial é de que o incêndio foi causado pelas más condições de segurança do edifício. Versão que eu me recuso a acreditar. O acontecimento foi muuuito conveniente para os patrões machistas que já não agüentavam aquele monte de mulheres protestando e reclamando das condições de trabalho. Mas esse dia já era marcado por protestos mesmo antes deste acontecimento. Em vários lugares do mundo, sobretudo em Nova Iorque, Berlim, Viena (1911) e São Petersburgo (1913) mulheres de todos os tipos, trabalhadoras, intelectuais, filosofas, socialistas já protestavam contra as más condições de trabalho das operárias da indústria. Mas ao longo da história o dia 08 de março foi perdendo seu sentido real.
Na atualidade vivemos em um mundo onde mulheres ainda são os maiores alvos da violência. De acordo com a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), até 70% das mulheres em alguns países enfrentam violência física e/ou sexual em sua vida.
Em países como Austrália, Canadá, Israel, África do Sul e Estados Unidos, a violência de um parceiro íntimo representa de 40% a 70% das vítimas de assassinato do sexo feminino. Além disso, cerca de 140 milhões de meninas sofrem mutilação genital e outras milhões são submetidas a casamentos forçados e tráfico. (3)
No mercado de trabalho a diferença salarial entre homens e mulheres pode chegar a 13,75%. O único estado em que o salário da mulher é maior que o do homem é Alagoas, com ganhos admissionais de R$ 779,23 e de R$ 773,59, respectivamente. Em contrapartida, a maior defasagem de gêneros, favorável ao homem, ocorre em Rondônia, onde o trabalhador masculino ganha R$ 987,60 ou 19,19% a mais que a mulher, que recebe R$ 798,07 para exercer a mesma função. (4)
E todas essas situações de abusos contra as mulheres pioram ainda mais se ela for negra, pobre ou homossexual.
As mulheres ainda são tratadas como objetos de satisfação sexual dos homens e a grande parte não se dá conta disso. As mulheres ainda têm sua imagem vulgarizada em filmes, novelas, programas de “humor” que a retratam apenas com roupas mínimas exibindo seus corpos como se essa fosse a única coisa que as mulheres sabem fazer ou a única finalidade a que se destinam. E o que é mais triste, muitas mulheres contribuem para esse quadro e acham que é correto e justo.
Não podemos nos contentar nem nos deixar iludir com as falsas flores sem perfume ofertadas pela mão de uma sociedade machista e hipócrita que finge aceitar a diversidade e a igualdade entre os gêneros.
Não podemos aceitar essas flores manchadas pelo sangue daquelas que morreram no passado lutando pelos seus direitos, sangue daquelas que morreram vítimas da violência de seus parceiros, sangue daquelas que morreram vítimas da saúde precária ofertada pelo Estado, sangue daquelas vítimas das drogas, vítimas do descaso, vítimas do preconceito e que mesmo estando vivas tiveram seus sonhos roubados e suas esperanças destruídas.
Não bastam as faixas, não bastam as flores, não bastam as promoções e os descontos, não bastam as homenagens.
 É preciso que não nos iludamos com a falsa realidade de independência da mulher, é preciso que não nos conformemos com as poucas conquistas adquiridas até aqui, precisamos ficar atentos para a realidade e não nos esqueçamos das duras lutas que as mulheres enfrentaram, enfrentam e ainda enfrentarão.
Queria encerar minha postagem de hoje dando os meus parabéns a todas vocês que são mulheres, em especial à minha mãe, mulher que fez de mim o que hoje sou, a todas que formam esse maravilhoso e colorido mosaico de belezas do mundo. Meu sincero reconhecimento à mulher que é mãe, trabalhadora, dona de casa, professora, médica, jogadora de futebol, moto taxista, bióloga, enfermeira, caminhoneira, psicóloga, assistente social, agrônoma, zootecnista, dentista, zeladora, cozinheira, esteticista, motorista, artista, esportista, jornalista, pesquisadora, dançarina, carpinteira, pedreira e que exerce tantas outras inumeráveis funções possíveis e imagináveis nos dias de hoje. A todas vocês PARABÉNS.
https://www.youtube.com/watch?v=UvbiZP18it0


REFERENCIAS:

(1) – Carlos Drummond de Andrade.
(2) - http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Internacional_da_Mulher
(3) - http://www.onu.org.br/violencia-contra-a-mulher-atinge-ate-70-da-populacao-em-alguns-paises-alerta-onu/
(4) - http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/10/18/diferenca-salarial-entre-homens-e-mulheres-esta-em-torno-de-13-75

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